Ser Feliz ou Ter Razão, eis a Questão…

Somos forçados a escolher entre razão e felicidade. Mas, será que a verdadeira razão e a verdadeira felicidade andam realmente separadas?

Nós somos bombardeados com essa frase durante toda a nossa vida, como se a felicidade e a razão não caminhassem nunca juntas e, ao fazer uma coisa, estivéssemos abrindo mão da outra.

O que você prefere, ser feliz ou ter razão?

Por muito tempo na minha vida eu respondi a essa pergunta, colocando a razão acima de todas as coisas. Afinal de contas, a razão é o certo, não é mesmo?

1. Mente ou uma função usada para pensar. Por exemplo, pedimos a alguém que use sua razão e não suas emoções.
2. Prova para uma crença, opinião ou juízo. Exemplificando, exigimos a razão para que uma pessoa creia que alguém é um ladrão.
3. Faculdade que permite o processo para se chegar a uma decisão ou conclusão, o raciocínio. Como exemplo, dizemos que o júri estava raciocinando corretamente quando decidiu que o réu era culpado – fonte: dicionário Dicico.

Acontece que a razão é relativa. Você muda as razões e, de acordo com o ponto de vista, a razão muda de dono.

Eu passei o meu curso de ciência política ouvindo meu professor falando sobre razão, principalmente a crítica da razão pura. E aí criamos uma quebra no conceito de razão: a razão pura, como verdade absoluta das coisas, versus a razão subjetiva, aquela que cada um defende e acredita ser o certo.

Felicidade e Razão: é impossível ter as duas coisas?

Felicidade e Razão: é impossível ter as duas coisas?

Mas aí precisamos fazer uma pequena pausa.

Aquilo que as pessoas tomam como a sua razão está envolto em suas percepções, em cultura, em personalidade. Portanto, não somos capazes de nos ater apenas à razão de modo positivista – sem envolvimento pessoa e sentimentos.

Entramos aí no mundo da razão filosófica. A razão, como filosofia é o certo, a pureza, o reconhecimento.

Mas então, toda a razão está infectada de sujeiras e percepções pessoais sobre qualquer assunto.

Por isso, uma discussão sobre Deus nunca vai levar à razão alguma, em uma discussão sobre futebol, ninguém tem a completa razão das coisas e, a discussão política – bem, essa aí, o povo nunca tem razão.

Eu nunca tinha parado para refletir sobre razão e sobre os impactos sobre traçar um plano de vida baseado na razão, ou baseado na felicidade. Eu nunca me conformei em fazer uma escolha e afetar meu comportamento sobre tudo com base nisso.

Você prefere ser feliz ou ter razão? Eu sempre quis ter razão, porque acreditava que esse era o primeiro passo para estar feliz consigo mesmo e, assim, ser feliz.

Eu sempre enxerguei uma coisa como complemento da outra. Mas, há pouco tempo atrás comecei a fazer uma pequena reflexão sobre isso, e sobre a maneira com que a nossa razão muitas vezes não fazem nenhum sentido para as outras pessoas.

Por isso, é importante ter razão para sermos felizes conosco, mas é importante, muitas vezes não impô-la aos outros para não estragar a maneira com que convivemos em sociedade.

E é assim que eu cheguei à conclusão de que razão é algo relativo, completamente relativo.

A razão é relativa.

Para apimentar mais ainda a discussão, eu ganhei de natal um precioso livro de Schopenhauer, “A Arte de Ter Razão”, livro que só foi editado e publicado após a morte do filósofo e sociólogo alemão.

A arte de ter razão: livro de Schopenhauer discute a conduta humana em busca da razão

A arte de ter razão: livro de Schopenhauer discute a conduta humana em busca da razão.

Diz a lenda que quando Schopenhauer terminou de escrever um livro, se deu conta que ele poderia ser utilizado para submeter pessoas às vontades de terceiros. Isso fez com que ele resolvesse não publicar a obra, que foi descoberta apenas após a sua morte e então publicada.

Por esse motivo este pequeno tratado sobre razão tem vários títulos e versões publicados pelo mundo e, sinceramente é preciso relê-lo algumas vezes para entender o verdadeiro significado de algumas lições ali apresentadas.

Arthur Schopenhauer conseguiu fazer acender uma pequena lâmpada em minha cabeça sobre razão, felicidade e comportamento.

Nós muitas vezes nos comportamos e agimos para com as outras pessoas de maneira a sempre conservarmos a nossa razão porque ela é a medida daquilo que acreditamos e, se aquilo for contestado, sentimo-nos contestado em nosso íntimo.

Fui ofendido. É o que pensamos quando alguém questiona a nossa razão, nos chamam de errado ou colocam a nossa opinião como algo inútil e sem valor.

Para Schopenhauer existem maneiras de manipular o adversário em uma discussão quando a nossa razão é colocada em dúvida.

Mas, quando utilizamos subterfúgios para manter a nossa razão sobre determinado assunto, perdemos a nossa razão, porque muitas vezes acabamos ofendendo, ridicularizando e manipulando as pessoas.

Para manter uma razão, perdemos a nossa razão de ser e de agir com as outras pessoas.

Mas, voltemos ao cerne da questão, Schopenhauer era completamente pessimista e, como tal, não acreditava na felicidade e seu posicionamento sobre o amor era uma rebeldia para a época, uma vez que não estava relacionado com a felicidade.

Para Schopenhauer, era possível sem ser feliz, uma vez que o amor nos faz mais mal do que bem, no final das contas.

Mas, o amor não é o motivo deste artigo.

Estávamos falando de razão, felicidade e conduta humana.

Como uma pessoa quer ser respeitada e ter reconhecida a sua opinião sobre determinado tema, e aí atingindo o reconhecimento público sobre aquilo que domina, pode utilizar técnicas e estratagemas vulgares para defender seus pontos de vista e rebaixar o adversário?

O verdadeiro sábio sabe elevar o seu adversário ao céu, já que ninguém quer duelar ou debater com pessoas sem reputação, sem conhecimento e sem entendimento.

Por isso, quanto maior o grau daqueles que contestam nosso pensamento, mais alto será o reconhecimento e virtude de nossas ideias.

O que Schopenhauer, afinal, queria dizer sobre a arte da razão?

Não se trata apenas sobre uma maneira de lidar com o adversário e lidar com acusações ou debater alguma coisa com outras pessoas, valendo para isso ridicularizar ideias e até mesmo o interlocutor.

Trata-se de mostrar que o ser humano quando não tem sobriedade e certeza sobre suas opiniões, lança mão de qualquer artifício para

Schopenhauer: vale tudo para ter razão?

Schopenhauer: vale tudo para ter razão?

ser reconhecido publicamente como dono da razão.

E esse cara, que precisa disso, nunca conseguirá combinar a razão com a felicidade, como Schopenhauer não conseguiu relacionar o amor com ela. Por isso ele sempre vai preferir a razão, assim como eu preferia há pouco tempo atrás.

O verdadeiro sábio precisa entender que o importante é ser feliz, independente do modo em que julgam as suas razões – ou a completa falta dela.

Afinal, os donos das maiores razões que conhecemos hoje sobre a vida, a matemática, a tecnologia, a astrofísica e ciências foram, durante muito tempo ridicularizados em suas razões.

Dane-se a razão. Permita que as experiências comprovem a verdade. No final, se tudo der errado, aprendemos, assim como Thomas Edison, apenas mais uma maneira de não fazer a lâmpada.

É esse o verdadeiro sentido da expressão “falem mal, mas falem de mim”. Apedrejado ou elogiado o importante é que as pessoas estejam vendo o que estamos fazendo.

A razão (e a verdade) são relativas. A felicidade não.

Um pensamento sobre “Ser Feliz ou Ter Razão, eis a Questão…

  1. Fico feliz que o livro tenha te (re)conduzido a novas reflexões sobre o tema.
    E, ao fim e ao cabo, penso que o fundamental não é, nem nunca será, ter ou não ter razão. A questão, a meu ver, está centrada em reconhecer o momento em que agir com razão à la Schoppenhauer se torna um IMPERATIVO, e não uma ESCOLHA.
    Grande abraço!

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