A crise foi a desculpa que muitas empresas precisavam para demitir os funcionários. Aquelas velhas pessoas medianas, que estavam trabalhando por trabalhar, e que não eram mais necessárias para as empresas, mas como elas estavam faturando, resolveram deixá-los quietinhos em seus lugares. MAS.. quando a crise apareceu, o faturamento diminuiu, o lucro despencou, estava na hora de fazer alguma coisa. Aí, essas pessoas foram dispensadas pela empresa, unindo o inútil ao desagradável.
A Revista Exame PME entrevistou diversos Consultores de Recursos Humanos sobre como dispensar os funcionários sem perder o respeito, a elegância e a educação. Confira as questões.
Deve-se comunicar antecipadamente que haverá demissões?
Não. Os consultores recomendam que os funcionários sejam prevenidos de outra maneira, com comunicados claros sobre as dificuldades que a empresa e seu setor estão enfrentando. Comunicar com antecedência que haverá cortes vai deixar todos ainda mais aterrorizados – os que vão ser demitidos e os que não serão. Um dos riscos é que os rumores se amplifiquem, se espalhem e acabem prejudicando ainda mais a empresa no mercado, aumentando os problemas que levaram à necessidade de cortar pessoal.
Se as dispensas são em massa, os funcionários devem ser comunicados coletivamente?
O ideal é que a comunicação a várias pessoas num mesmo setor seja feita individualmente. É importante não demitir ninguém diante dos colegas, pois isso abre brechas para que a empresa seja processada na Justiça do Trabalho por submeter seus funcionários a constrangimento.
E se a empresa fechar uma unidade ou descontinuar uma linha de produtos e precisar dispensar toda a equipe da área? É possível fazer uma demissão em grupo?
Nesses casos, o ideal é que a comunicação das dispensas seja feita em duas etapas. Primeiro, a recomendação é que o grupo de funcionários a ser demitido seja reunido e receba a notícia do próprio dono ou do principal executivo. Depois, uma equipe deve ser incumbida de atender as pessoas individualmente para esclarecer as dúvidas de cada uma.
O que levar em conta ao definir quem será demitido?
Os critérios podem variar de acordo com a realidade de cada empresa, que pode optar por dispensar primeiro os funcionários com menos tempo de casa ou os que recebem salários maiores, por exemplo. Em qualquer caso, o desempenho deve ser o fator determinante – entre outras razões porque ajuda a disseminar entre quem fica a cultura de que o melhor seguro contra o desemprego é a alta performance. Com o tempo, isso contribui para gerar um comportamento voltado para a produtividade – o que pode ser um impulso para o crescimento quando os bons tempos voltarem.
Como evitar que o planejamento das demissões seja tumultuado?
Para se prevenir contra o burburinho, o melhor é agir rápido. Não dá para deixar passar muitos dias entre o instante em que se conclui que os cortes serão inevitáveis e a hora de dar a notícia aos envolvidos. O ideal é que todo o processo tome apenas o tempo necessário para organizar a documentação e as informações que devem ser dadas aos demitidos.
E quando um boato se espalha?
O melhor, nesse caso, é antecipar ao máximo a comunicação das dispensas, pondo um ponto final na questão. A pior coisa é confirmar ou desmentir rumores extraoficialmente, pois isso só aumenta o nível de fofoca e ansiedade entre o pessoal.
Quem deve comunicar as demissões?
O funcionário deve ouvir a notícia de seu chefe imediato. Muitas vezes, nas pequenas e médias empresas, isso significa que o próprio dono ou o principal sócio vai ser o encarregado da tarefa. Quando a empresa não conta com um profissional de recursos humanos, também cabe ao chefe informar o demitido sobre o pagamento de aviso prévio, 13o salário, férias proporcionais ou vencidas, horas extras e fundo de garantia, além de benefícios que a empresa pode vir a conceder.
Qual a postura correta de quem dá a notícia?
Quem comunica uma demissão precisa estar preparado para suportar a carga emocional que costuma surgir numa situação assim. Quem dispensa um funcionário representa a empresa e, portanto, não pode transferir a culpa da escolha, como dizer que a decisão veio da presidência ou que, se dependesse dele, outra pessoa seria escolhida.
O que muda se a pessoa a ser demitida ocupa um cargo de chefia?
As recomendações para quem for comunicar o desligamento são as mesmas – ter as informações necessárias e estar preparado para tirar dúvidas. Mas o discurso deve ser adequado ao nível do funcionário. Profissionais que ocupavam cargos estratégicos têm acesso a mais informações e conhecem melhor a empresa. Embora eles compreendam melhor o que levou à necessidade de cortes, suas dúvidas tendem a ser mais complexas.
E se o chefe imediato das pessoas que serão desligadas também estiver na lista de cortes? Ele deve fazer as demissões antes de deixar o cargo?
Os especialistas recomendam que a empresa não proponha algo desse tipo aos profissionais. Mas, se a ideia partir do funcionário porque ele se sente no dever de dar uma satisfação à própria equipe, a empresa pode permitir – desde que se tenha certeza de que esse chefe suportará a carga emocional.
A empresa deve informar ao funcionário se tem a intenção de recontratá-lo no futuro?
Não. Isso pode gerar uma expectativa que talvez não seja atendida caso as condições do mercado não melhorem. Se a empresa acha que um funcionário demitido pode ser recontratado no futuro, deve apenas pedir que ele mantenha os contatos atualizados.
O que dizer aos funcionários que ficam na empresa?
É importante explicar a eles os motivos das demissões, tranquilizá-los sobre os riscos de novas dispensas e apresentar as perspectivas para os negócios após a redução de pessoal. Deve-se deixar claro que o processo de demissões já terminou e se concentrar em falar sobre a situação dali em diante.
Qual o melhor dia da semana para anunciar as demissões?
A maioria dos consultores sugere que a notícia seja dada no começo da semana, no início do expediente. Segundo eles, é normal que os demitidos fiquem ansiosos para fazer contatos profissionais e buscar uma recolocação o quanto antes. Se a demissão ocorrer numa segunda-feira, haverá quatro dias úteis para fazer isso. Uma demissão na sexta-feira pode causar aflição desnecessária aos dispensados, que vão passar o fim de semana inteiro preocupados, sem poder fazer nada de concreto para enfrentar o que vem pela frente.
Criar um pacote extra de benefícios ameniza a má notícia?
Muitas empresas criam pacotes de benefícios extras para os funcionários demitidos – como extensão do plano de saúde por alguns meses, cursos de requalificação, uma indenização maior – ou mesmo cedem temporariamente equipamentos que eram utilizados pelo empregado, como celular e palmtop. O importante é fazer as contas direito para ter certeza de que esses benefícios suplementares estão dentro das possibilidades financeiras da empresa – o pagamento das verbas rescisórias tem de vir em primeiro lugar.
E se a empresa não tiver condições financeiras para oferecer pacotes desse tipo?
É possível criar benefícios alternativos e de baixo custo. A empresa pode, por exemplo, destacar um funcionário da área de recursos humanos para analisar o currículo dos demitidos e ajudá-los a participar de processos de seleção em outras empresas. Indicar bons profissionais que tiveram de ser dispensados para vagas em aberto nas empresas de clientes e fornecedores também não custa nada. Além disso, a empresa pode encaminhá-los a cursos de requalificação mantidos por entidades de classe e organizações não-governamentais, que geralmente custam pouco ou são gratuitos.
Caso ainda exista a possibilidade de mais demissões, isso deve ficar claro para quem escapou do primeiro corte?
Não é conveniente deixar tão claro que novas demissões podem acontecer, o que pode causar pânico. Deve-se dizer apenas que ainda há dificuldades a enfrentar.