A oportunidade de aprender por heróis é o que transforma a vida das pessoas e desperta o espírito empreendedor.
Alguns gurus do empreendedorismo pregam que o empreendedorismo é um dom divino e como tal não pode ser ensinado ou desenvolvido. Alguns empreendedores para aumentarem o seu ego e vaidade confirmam isso dizendo que o empreendedorismo é uma fagulha que já nasce conosco.
Mas a verdade é que nascemos pelado, igual a um rato. E tudo que aprendemos e pensamos é fruto da nossa personalidade, que é desenvolvida quando ainda somos crianças.
É a infância que determina aquilo que seremos para toda a vida. É ela que nos torna empreendedores, pessoas de bem, medíocres ou bandidos.
Eu tenho uma memória muito seletiva, como gosto de brincar. Mas a verdade é que eu não me lembro de muitas coisas, independente da faixa etária. Não me lembro de coisas que aconteceram há 5 ou 10 anos atrás.
Mas é a minha infância que funciona para mim como uma caixa preta. Não me lembro de nada antes de a minha irmã nascer, quando eu tinha 3 anos, e apenas alguns flashes depois disso.
Na verdade eu não sei quais são as minhas primeiras lembranças da minha infância. Lembro de flashes com 6, 7 e 8 anos. Mas muitas coisas mesmo eu esqueci. Ou nunca soube.
Antes que vocês me digam que isso é fruto de algum trauma, não é verdade. Eu tive uma infância linda, com família reunida e, além de tudo, sou o primeiro neto, o primeiro sobrinho e o primeiro filho.
Fui o rei do pedaço por algum tempo – um pouco mais de 1 ano, quando nasceu meu primo.
Mas eu acho que eu só sou um empreendedor hoje porque eu tive uma infância linda. Mesmo me lembrando de pouca coisa.
Eu me lembro que eu vendi balas na porta de casa ainda muito novo. Acho que naquela época era hobby. Não sei explicar o que me levou a fazer isso, mas certamente foi a ideia de diversão. E o pior, isso tudo começou porque eu vi um pacote com saquinho de pipoca e quis vender. E fui pra porta de casa vender…
Acho que meus pais – casados ainda naquela época – ficaram com pena e voltaram com um saco de balas no mercado. Com o tempo a minha vendinha de balas tinha até uma caixinha com divisória para os diversos tipos.
Então eu já sou empreendedor desde criança. Ou, pode ser que eu esteja me lembrando de uma outra encarnação.
Mas o que eu não esqueço eram dos natais, do meu tio, que é apenas 7 anos mais velho do que eu e dos dengos dos meus avós. Naquela época, eu tinha até bis-avó e sim, fui também o primeiro bis-neto.
Mas o que eu tinha de mais especial era um senhor de cabelos brancos que sempre andava com um belo sapato preto engraxado e óculos. Um óculos de grau cinza, meio esverdeado. Sempre que vinha em casa, vinha com uma bolsa, que ele chamava de “capanga” a tira colo.
Pra mim era novidade ter um avô, já que eu não conheci o meu avô paterno, concentrei tudo que eu tinha naquele senhor de cabelos brancos que eu aprendi a chamar de avô.
O meu avô veio com uma missão diferente da de todos os outros. Não bastasse ter criado 4 filhos, Deus colocou no caminho dele 2 crianças que precisariam brevemente de uma figura paterna.
E eu acho que ele sempre soube disso, porque sempre foi cativando a mim e minha irmã, sempre se mostrando seguro, decidido, confiável, soberando. Nada para o meu avô parecia impossível. E quando ele falava não, não adiantava resmungar.
Ele parecia mais um super-homem. Uma super-pessoa. Um super-avô.
Quem é rei nunca perde a majestade! Feliz aniversário sêo Newton.
Com uma voz firme, parecia ser dono de tudo e nunca mostrou ou aparentou dúvida ou incerteza de nada do que fez, ou de nenhuma atitude que tomou em sua vida.
Meu avô é nascido em 1932, e se ele não é exemplo de empreendedor eu não sei o que é. Saiu do Rio de Janeiro – sim é um carioca da gema – para ir trabalhar em Volta Redonda, na fundação da CSN, aonde se aposentou.
No meio disso, casou-se teve 4 filhos. Passou dificuldades mas sempre esteve de cabeça erguida. Sempre fez muito bem feito o que se propôs a fazer. Aprendeu com a vida, com as pessoas, cresceu na profissão e na vida.
Aposentou mas não parou de trabalhar. Criou os 4 filhos com tudo que pode. Da infância sofrida, minha mãe que é criança se lembra rindo, porque diz que nunca se sentiu inferior a ninguém.
De homem de pouco estudo a pai de doutores, Sr. Newton Cardoso aprendeu sozinho a cair e levantar e a levar comida para os filhos. Fico pensando quantas vezes deve ter ido dormir se perguntando como seria o dia de amanhã.
E o amanhã de meu avô foi belíssimo. Ele soube aproveitar as oportunidades da vida e nunca teve medo de arriscar. Acertou, errou, caiu, deu certo. Nunca desistiu e por isso é orgulho de todos os filhos.
É o patrono de uma família linda. Cheia de desafios, problemas, como todas as famílias. Mas todos se gostam graças a ele, que sempre esteve presente para nos mostrar como é bonito estar junto e como estar em sintonia com nossos familiares faz bem pro coração.
Eu lembro dos seus pequenos gestos, desde quando eu me lembro de alguma coisa. Nos levava para viajar, para passear, sempre com paciência, com amor, com cumplicidade.
Não era o avô da hierarquia. Era o avô cúmplice, o avô que cativa os netos. Me lembro dele me pegando no colo. Ele é o cara que conta piadas, que faz brincadeira, que ri da vida, que ri de si mesmo, que ri de todo mundo.
Ganhou os netos com carinho. Me ganhou pela postura de quem nunca está inseguro e sabe o que faz. Me ensinou que empreendedorismo é muito mais fazer o que é preciso para conseguir o que se quer agora, do que planejar um futuro brilhante sem colocar a mão na massa.
Ganhou o meu amor não ao me dar dinheiro. Mas sim ao me dar um pequeno livrinho dizendo para que eu praticasse aqueles ensinamentos para poder ser uma pessoa melhor.
Ganhou minha gratidão não ao dizer que me ama, mas ao se arriscar comigo nos momentos mais difíceis da minha vida, quando tudo era incerteza e, os problemas iam crescendo.
Ganhou minha admiração por nunca desistir. E por nunca se mostrar fraco diante de ninguém. A força que ele faz pra parecer forte espanta qualquer fraqueza, e faz com que fiquemos fortes também.
Eu sempre vi o meu avô forte, exceto por um momento…
Daqui a 1 semana faz um ano que um belo dia sou acordado com a notícia de que meu avô tinha sofrido um AVC. De repente, via o peso do mundo desmoronar nas minhas costas.
Ele sofreu um AVC 1 semana após o seu aniversário. Certas datas nunca são esquecidas.
Vi o homem mais forte que já conheci ser derrubado e muitas noites passei chorando com medo dele não conseguir se levantar. Deus nos pregou uma peça, uma pegadinha de mau gosto.
Mas, o homem mais forte do mundo não quis saber de nada, se recusou a ceder e se levantou, mesmo que o mundo todo girasse quando ele estava de pé. A sua teimosia o tornou mais forte, e ele venceu qualquer sequela que o AVC poderia ter deixado em uma pessoa normal.
Mas, ele não é normal.
É um exemplo. Um herói. E heróis não são vencidos por problemas comuns. Heróis não são abatidos por dores comuns. Heróis não são comuns. Eles são muito mais do que nós, simples mortais.
Hoje, dia 23 de novembro o meu herói faz 80 anos. O meu simbolo de empreendedorismo, o meu símbolo de pai, de avô, de pessoa do bem. Que Deus conserve, por mais 80 anos esse espírito de juventude e grandeza, no corpo desse homem que transparece tanta sabedoria e força.
É igual a ele – à sua imagem e semelhança – que quero ser quando crescer…
Vida longa ao rei!